Há vidas que caíram no esquecimento. Há olhares que se perderam pelo caminho por não terem quem lhes olhasse. Há rostos que envelheceram sem sentirem o toque de um amor que conforta e que acompanha. Há vidas que perderam o acompanhamento por terem um novo ritmo. Agora não são ritmadas pelo que produzem, mas pela sabedoria que carregam em cada ruga e em cada cabelo branco.
Há vidas em que os dias lhes pesam mais do que os seus anos de vida. Pesa-lhes a solidão. Pesa-lhes a falta da palavra e o toque cuidador. Pesa-lhes a falta do sorriso que lhes aviva as suas memórias. Pesa-lhes o passado que não é respeitado. Pesa-lhes a falta de consideração por não terem os bolsos cheios de dinheiro. Pesa-lhes as promessas falhadas. Pesa-lhes as condições que mereciam para que a sua dignidade humana fosse respeitada. Pesa-lhes o que poderia ter sido aguentando até ao fim das suas vidas com aquilo que realmente foi.
Há vidas que caíram no esquecimento, mas que mesmo assim não perdem a amabilidade do saber acolher. Caíram no esquecimento, mas não se esqueceram do poder que as palavras podem ter. Não se esqueceram de que nesta vida não vale tudo. Continuam vivendo como se a vida lhes prometesse um novo começo.
Quantas vidas não acabarão esquecidas pela própria vida? Quantas e quantas vidas não andarão perdidas sendo encobertas apenas pelas suas quatro paredes? Quantos olhares não terão um rosto que lhes sorria? Quantos corações não sentirão o aperto da indiferença? Quantas vidas, não lhes custará o simples respirar, por não terem que lhes abrace?
Há vidas que vão caindo no esquecimento, enquanto vamos virando a cara e fingindo que não é nada connosco.
Há vidas que vão caindo no esquecimento, enquanto nos vamos conformando com o “foi sempre assim”.
Há vidas que vão caindo no esquecimento, porque ateimamos em não sermos servidores de vida e para a vida!
[Texto da autoria de ©Emanuel António Dias]

[Fotografia da autoria de ©MabelAmber]